Mao Tsé-Tung proclamou o nascimento da República Popular da China no dia primeiro de outubro de 1949, após décadas de imperialismo japonês e de uma sangrenta guerra civil entre nacionalistas e comunistas, que deixou um saldo de 40 milhões de mortos.
Os avanços sociais nas áreas de ensino e saúde e a unificação de um vasto território com cerca de um bilhão e duzentos mil habitantes ( de longe o país mais populoso do mundo, abrigando 23% da população do planeta), que durante cinco milênios de história viveu fragmentado e dominado por inimigos estrangeiros, foram os maiores legados do Grande Timoneiro (como Mao era chamado).
O sonho de uma sociedade igualitária com produção comunitária foi um desastre no final da década de 1950, levando fome e doenças para mais de trinta milhões de chineses. Esse cenário irá contribuir para uma outra revolução, liderada por Deng Xiaoping, que sucedeu a Mao nos anos 70, iniciando uma nova etapa no singular socialismo chinês, que muito tempo antes da derrocada socialista no leste europeu e na ex-URSS, convive com uma economia de mercado tipicamente capitalista.
As relações diplomáticas da China com o mundo ocidental normalizaram-se na década de 1970, principalmente após 1972, quando o presidente norte-americano Richard Nixon visitou a China. No ano anterior, a República Popular da China já tinha sido reconhecida pela ONU enquanto Taiwan era excluída da organização.
Com a morte de Zhu Enlai em janeiro de 1976, inicia-se uma nova crise política com manifestações populares a favor de Deng Xiaoping e Hua Guofeng, que tornou-se primeiro ministro. Em 9 de setembro desse mesmo ano morria Mao Tsé-Tung e imediatamente Hua Guofeng inicia uma forte campanha contra os radicais, culminando com a prisão do "Bando dos Quatro".
Os novos dirigentes iniciam a política das "Quatro Modernizações" (indústria, agricultura, defesa e ciência e tecnologia).
Qualquer um que converse com chineses comuns sobre como eles se sentem em relação ao autoritarismo e à repressão do governo da China, invariavelmente, ouve que o padrão de vida da população chinesa, hoje, é muito melhor do que antes das reformas econômicas iniciadas pelo líder Deng Xiaoping, em fins da década de 70. De fato, nos últimos 30 anos, com a injeção de capitalismo dada a um fracassado regime comunista, a China passou de uma fechada e empobrecida economia asiática para o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país) do planeta - US$5,7 trilhões em 2010 -, triplicando sua renda por habitante - mais de US$3 mil - e tirando da miséria cerca de 250 milhões de pessoas.
Beneficiados pela prosperidade econômica e dependentes de relações com o Partido Comunista da China (PCC) para fazer negócios e conseguir empregos, a classe média chinesa e os empresários do país não querem arriscar seu status quo com mudanças. Nem o governo de Pequim quer abrir mão do controle econômico e social, sob o risco de comprometer seu projeto de desenvolvimento e manutenção do poder.
OPINIÃO - Capitalismo chinês é selvagem / Colunista Clóvis Rossi
COMEÇAM A SURGIR os primeiros embaraços no brilho do planeta China, pelo menos na América Latina.
COMEÇAM A SURGIR os primeiros embaraços no brilho do planeta China, pelo menos na América Latina.
O capitalismo social de mercado, rótulo oficial para o modelo chinês de partido único com economia de mercado, está se revelando tão selvagem quanto o velho e ruim capitalismo selvagem.
A mais recente queixa vem do Peru, em reportagem publicada ontem pelo jornal espanhol "El País". Relata a frustração dos habitantes da remota San Juan de Marco, situada no deserto de Ica, ao sul de Lima.
Há 18 anos, em pleno governo de Alberto Fujimori, a Shougang Corporation chinesa comprou a estatal Hierro Peru, em um dos primeiros movimentos da China para garantir o suprimento de matérias-primas para o seu pantagruélico apetite econômico.
Parecia o advento do paraíso para a pobre localidade mineira peruana. Relata "El País" que "o entusiasmo durou pouco e atualmente Marcona é uma zona de tensão e conflito permanentes".
Para começar, a empresa chinesa adotou o velho modelo capitalista de decapitação em massa de trabalhadores: reduziu à metade o número de empregados na mina. Depois, descumpriu compromisso de investimento de US$ 150 milhões para melhorar não só a infraestrutura da mina em si mas da localidade em que vivem os empregados.
Como se fosse pouco, o sindicato de trabalhadores denuncia o despejo no mar de resíduos tóxicos.
Tudo somado, só neste ano, a mina já esteve paralisada por 42 dias por conta de greves.
Antes do caso peruano, o presidente do Equador, Rafael Correa, que não é exatamente um entusiasta do capitalismo, denunciou o governo chinês por se comportar "pior que uma corporação imperialista".
Tudo pela maneira como a China agiu em negociação para o financiamento de uma hidrelétrica em território equatoriano.
"Não vamos esquecer", prometeu Correa, que adicionou insulto à crítica, ao mencionar Taiwan -arqui-inimiga da China- como eventual alternativa de financiamento.
Os equatorianos também tiveram problemas com a aquisição pela China de ativos da EnCana, em 2005. A comunidade reclamou da deficiente atenção dos novos proprietários às questões sociais e trabalhistas -a mesma queixa ouvida no caso da peruana Marcona.
É claro que esses incidentes ainda são isolados e, por isso, insuficientes para romper o encantamento derivado do impulso que a China fornece às economias não só da América Latina como do mundo.
De todo modo, Jeremy M. Martin, diretor do Programa de Energia do Instituto das Américas da Universidade da Califórnia em San Diego, comenta: "Permanece uma significativa brecha cultural entre a região e China, exacerbada pela percepção de que as intenções chinesas são apenas a de um voraz consumidor de recursos naturais e não de um verdadeiro parceiro".
A América Latina conhece bem apetites vorazes por seus recursos naturais, desde a colonização espanhola e portuguesa, o que significa que quanto mais voracidade a China demonstrar, mais se acentuará a sensibilidade política na região.
CURIOSIDADES SOBRE A CHINA ANTES DA REVOLUÇÃO DE MAOA mais recente queixa vem do Peru, em reportagem publicada ontem pelo jornal espanhol "El País". Relata a frustração dos habitantes da remota San Juan de Marco, situada no deserto de Ica, ao sul de Lima.
Há 18 anos, em pleno governo de Alberto Fujimori, a Shougang Corporation chinesa comprou a estatal Hierro Peru, em um dos primeiros movimentos da China para garantir o suprimento de matérias-primas para o seu pantagruélico apetite econômico.
Parecia o advento do paraíso para a pobre localidade mineira peruana. Relata "El País" que "o entusiasmo durou pouco e atualmente Marcona é uma zona de tensão e conflito permanentes".
Para começar, a empresa chinesa adotou o velho modelo capitalista de decapitação em massa de trabalhadores: reduziu à metade o número de empregados na mina. Depois, descumpriu compromisso de investimento de US$ 150 milhões para melhorar não só a infraestrutura da mina em si mas da localidade em que vivem os empregados.
Como se fosse pouco, o sindicato de trabalhadores denuncia o despejo no mar de resíduos tóxicos.
Tudo somado, só neste ano, a mina já esteve paralisada por 42 dias por conta de greves.
Antes do caso peruano, o presidente do Equador, Rafael Correa, que não é exatamente um entusiasta do capitalismo, denunciou o governo chinês por se comportar "pior que uma corporação imperialista".
Tudo pela maneira como a China agiu em negociação para o financiamento de uma hidrelétrica em território equatoriano.
"Não vamos esquecer", prometeu Correa, que adicionou insulto à crítica, ao mencionar Taiwan -arqui-inimiga da China- como eventual alternativa de financiamento.
Os equatorianos também tiveram problemas com a aquisição pela China de ativos da EnCana, em 2005. A comunidade reclamou da deficiente atenção dos novos proprietários às questões sociais e trabalhistas -a mesma queixa ouvida no caso da peruana Marcona.
É claro que esses incidentes ainda são isolados e, por isso, insuficientes para romper o encantamento derivado do impulso que a China fornece às economias não só da América Latina como do mundo.
De todo modo, Jeremy M. Martin, diretor do Programa de Energia do Instituto das Américas da Universidade da Califórnia em San Diego, comenta: "Permanece uma significativa brecha cultural entre a região e China, exacerbada pela percepção de que as intenções chinesas são apenas a de um voraz consumidor de recursos naturais e não de um verdadeiro parceiro".
A América Latina conhece bem apetites vorazes por seus recursos naturais, desde a colonização espanhola e portuguesa, o que significa que quanto mais voracidade a China demonstrar, mais se acentuará a sensibilidade política na região.
Hua Guofeng
No período imperial da China, os pés das mulheres chinesas eram considerados estranhos em seu tamanho normal. A beleza e virtude da mulher chinesa estava vinculada ao tamanho de seu pé, que tinha que se assemelhar ao tamanho de uma pequena “flor de lotus”.
Esse antigo costume, cruel e bizarro, começou durante a dinastia Sung (960-976 aC), com a intenção de imitar uma concubina imperial, que era obrigada a dançar com os pés enfaixados.
No momento em que uma menina completasse três anos, ataduras eram colocadas em seus pés. Dobravam-se então, os quatro dedos menores até a sola do pé, forçando o calcanhar a entrar, acabando por quebrar os ossos.
O processo era torturante, porém se uma mulher não o fizesse, não consegueria se casar. Existe um suposto manual do sexo da dinastia Qing, onde são listados 48 maneiras diferentes de jogo de amor com mulheres com pés de lótus. Bizarro!
Muitos chineses achavam esses pés eróticos, considerados a parte mais íntima da anatomia das mulheres.Um pé enfaixado com sucesso, tinha de 7cm a 10cm. Com isso, as fábricas começaram a fabricar sapatos nessa medida.
A prática faria com que o pé dobrasse imitando uma flor de lótus. Essa tradição cessou no século 20, com o fim das dinastias imperiais e crescente influência da moda ocidental.As ataduras dos pés de lótus, duraram do século 10 até 1949, quando foi proibida pela nova república chinesa.
Os pés atados deixaram na China inúmeras idosas com deficiência nos pés e sérios problemas de saúde.
Veja nas fotos uma chinesa que teve seus pés atados desde pequena, usando o tradicional sapato chinês.
Como acabou o analfabetismo na China
Reproduzo o capitulo 4 do livro China: O Nordeste que deu certo da escritora e jornalista Heloneida Studart. Ela, visitou a China 30 anos após a Revolução Comunista de 1949 e descreveu suas experiências em um país que procurava esquecer seu passado colonial: período em que todo seu povo era escravizado pelas potências industriais européias e pelo Japão. Nesse capítulo chamado Como o analfabetismo acabou ela explica como os chineses conseguiram em poucos anos alfabetizar uma população em que 80% não sabiam ler e escrever.
Na aldeia Zhao, vi algumas escolas primárias. Todas singelas, com o modesto quadro negro, as carteiras de madeira sem verniz, os garotinhos olhando atentamente para o professor e rabiscando aqueles caracteres incríveis em blocos de papel ordinário. Em matéria de Educação, duas coisas me impressionam na China: o comportamento do aluno e a extinção do analfabetismo. Não é fácil alfabetizar centenas de milhões de pessoas. Principalmente, se a escrita é compota daqueles inumeráveis caracteres, cada um deles constituídos de muitos traços, com uma estrutura complexa que os torna difíceis de ler, memorizar e escrever – desconfio que eu passaria anos antes de conseguir reconhecê-los. Assim mesmo, realizada a Libertação e feita a reforma agrária, os chineses lançaram-se à tarefa de acabar com o analfabetismo (80% da população era analfabeta; no campo, este percentual alcançava 90%). Havia aldeias em que não existia um único camponês alfabetizado. E assim, receber ou enviar uma carta significava, ir à aldeia vizinha, para pedir ajuda de quem soubesse decifrar os caracteres. Em 1955, a palavra de ordem de alfabetizar todo o país assumiu uma forma planificada. E como, na China, não funcionava a filosofia do “eu estou na minha”, todo partiram – com todos – para ensinar a ler e a escrever a milhões de chineses entre 15 e 45 anos de idade. Foi fundada uma Associação Nacional de Alfabetização e houve uma convocação geral às massas para que ajudassem o plano. Representantes dos sindicatos, das organizações feministas e das entidades juvenis começaram a mobilizar todas as forças sociais para a campanha. Não havia sala vazia ou praça disponível em que os chineses não se reunissem para discutir os métodos a serem usados. Discursos, conferências, jornais murais difundiam a urgência da aplicação do plano. Enquanto isso, aos milhares, os ativistas voluntários iam de casa em casa para ensinar aos analfabetos. Só na província costeira de Shan Dong participaram do trabalho de alfabetização três milhões de pessoas: “Você tem certeza de que entraram milhões?”, indaguei, boquiaberta, receando que, em minha rua, eu não mobilizasse, para a mesma tarefa, mai de três pessoas. “Em Shan Dong – explicou ela. – Porque o continente inteiro tinha, só de jovens, 30 milhões. Eles foram ensinar nas escolas noturnas, cursos de alfabetização e escolas de inverno. Em todos os lugares onde havia adultos que não sabiam ler nem escrever”.
Além desses tipos de curso, os chineses criaram “grupos de estudos em casa”; qualquer pessoa que soubesse ler ia à casa de quem não sabia. Ali, entre goles de chá fumegante, empenhava-se em lhe explicar os 1500 caracteres chineses. Donas-de-casa que haviam nascido e crescido na China antiga, tendo comido apenas a sobra de arroz de seus pais (e depois, a de seus maridos), começaram a memorizar os traços inumeráveis. Segundo Fan, elas chegaram a ser patética em sua decisão de aprender a ler e a escrever a qualquer custo. Às vezes, levavam os cartões com caracteres escritos no bolso do blusão para olhá-los, de vez enquanto cozinhavam ou arrumavam. Algumas os rabiscavam nos móveis, nos quartos, nas panelas; encorajavam seus maridos (quando estes estavam lutando para aprender) a levar caractere pintado em tabuletas para o campo e os colocarem ao lado dos canteiros de trabalho. Houve mulheres que pintaram o caractere em árvores. Quem passasse, dava uma olhada.
Os camponeses, por sua vez, tratavam de instalar salas de aula desocupadas emprestadas, levavam para lá os móveis de seus próprios lares. E quando não tinham, conduziam caixotes ou arrumavam bancos feitos de tijolos. Em apenas um ano e meio, a maioria desses milhões de esforçado já podia ler jornais, escrever recados – e cartas - , anotar pontos de trabalho.
Para prevenir um retrocesso possível, o Plano de Alfabetização foi em frente, criando escolas regulares: primárias e secundárias, escolas agrícolas e até “universidades de horas de folga”. Onde não havia condições, os alfabetizados se organizavam em grupo de autodidatas. E recebiam de organizações oficiais, livros e jornais.
O trabalho foi mais fácil nas grandes cidades mas também exigiu uma cooperação total – cada operário alfabetizado ensinava ao outro, analfabeto; se preciso, este tinha o horário reduzido, para estudar. Os chineses não menosprezavam a palavra heroísmo. O altruísmo maoísta é um dos dados mais importantes deste processo de transformação. Constituíram uma sociedade que defende determinado valores, com pontos de referência nítidos. Onde ninguém diz “não é da minha conta” e existem papéis definidos para as pessoas desempenharem, obtidos por um consenso geral da sociedade. Isso é tento mais evidente quando a gente vê o comportamento das crianças, nas escolas. Elas não sobem nas carteiras, nem jogam um balde de tinta na cara dos professores, como acontece em nossos mais avançados jardins-de-infância. Também não tiram a roupa e não “manifestam sua agressividade” rasgando os cadernos e atirando-o para o alto. Até mesmo os garotinhos de dois anos ficam quietos, em fila, ou sentados com os braços para trás – que é bom para a coluna, me explicam. Todos cantam e dançam o que lhes pedem, sempre muito tranqüilos e sorridentes. No pátio, fazem ginástica, com disciplina e ritmo, ou se submetem ao exercício ocular. Nas escolas primárias as crianças fazem esse exercício todos os dias, durante cinco minutos (quase não vi óculos em território chinês e atribuía a ausência ao fato dos chineses não terem o hábito de ver os irresistíveis anúncios das óticas na televisão). De um modo geral, fiquei tão espantada com a disciplina das crianças chinesas – entre nós é sabido que se as crianças não fizerem pipi dentro da sopeira quando quiserem, poderão ficar traumatizadas – que perguntei se ainda usavam, na China, a palmatória ou a vara de marmelo. Os professores riram: “Mao era mestre-escola e tinha ponto de vista firmado contra os castigos. Mas aqui existe a pressão social. Que tem a maior força sobre o comportamento de crianças e adultos”.
A explicação foi interrompida por uma menininha de tranças enlaçadas. Dizendo “seja bem-vinda, tia”, me entregou um complicado brinquedo feito por ela. Que me pareceu tão sofisticado e belo como o próprio palácio do céu.